A nossa equipe de consultoria cultural fez um compilado/retrospectiva com os principais eventos de 2020 no Oriente Médio e resolvemos compartilhar aqui com vocês. O compilado relata os principais eventos por país e é organizado em ordem alfabética.
Alguns eventos acontecem e interferem em mais de um país simultaneamente. Sendo assim, tivemos que escolher sob quais títulos relatá-los. As escolhas muitas vezes foram arbitrárias.
Em 2020, a pandemia do Coronavírus afetou todo o mundo, mas não foi o suficiente para paralisar os conflitos na Síria e no Iêmen, nem prevenir protestos em vários países. Este foi mais um ano de eventos impactantes na região como a explosão no porto de Beirute, a morte do general iraniano Qassem Soleimani e o estabelecimento de relações diplomáticas entre Israel e Emirados Árabes Unidos (EAU) e Bahrein.
Arábia Saudita
O país continuou envolvido na guerra do Iêmen, sofrendo, como consequência, ataques esporádicos.
Outro ponto que vale a pena mencionar é a questão do petróleo com foco na guerra de preços com a Rússia. O FMI previu a contração da economia saudita em 7% em 2020 e em 3,1% em 2021.
Apesar de avançar lentamente em retirar restrições a direitos e liberdades, no final do ano, a ativista Loujan, que milita pelos direitos das mulheres, foi sentenciada a cinco anos de prisão.
No final do ano, ocorreu uma suposta viagem de Netanyahu à Arábia Saudita durante a qual o primeiro-ministro israelense se encontrou com o príncipe herdeiro do país e Mike Pompeo na cidade futurista NEOM, que ainda está em construção. A Arábia Saudita negou que Netanyahu tenha entrado no país. A viagem foi divulgada pela imprensa israelense, mas o governo israelense escolheu não comentar sobre o assunto.
Bahrein
Como estamos no Brasil, vale destacar a vinda à Brasília de uma delegação do Bahrein para o lançamento da Declaração do Reino do Bahrein na América do Sul. A Declaração é um chamado para a paz e a coexistência pacífica entre as religiões e inspira ações concretas como o Centro Rei Hamad e promoção de bolsas e programas de estudos.
Catar
Em julho, a Corte Internacional de Justiça decidiu em favor do Catar, rejeitando o recurso do Bahrein, do Egito, da Arábia Saudita e dos EAU, permitindo que a Organização da Aviação Civil Internacional determine a legalidade das sanções impostas em 2017, que incluem bloqueios-aéreos.
Chipre
Por causa da COVID, a fronteira entre a República de Chipre e a República Turca de Chipre do Norte é fechada pela primeira vez desde 2003.
Em 2020, o Chipre do Norte foi marcado por eleições e um referendo constitucional, enquanto a República de Chipre esteve nos noticiários devido ao escândalo dos Cyprus Papers, a emissão de vários passaportes cipriotas dando acesso a terroristas à UE.
Durante o ano, as disputas territoriais envolvendo a Turquia, a Grécia e os Chipres continuaram com foco especial nas fronteiras marítimas por causa da potencial exploração de gás e petróleo.
Egito
2020 foi um ano de muitos acontecimentos no Egito. O país foi o mais atingido por uma tempestade, denominada Dragão ou Depressão do Dragão, que teve início em 12 de março, durou vários dias e afetou inúmeros países do Oriente Médio. Além do Egito, a Depressão do Dragão passou por Israel, Líbano, Palestina, Iraque e Jordânia. Esses países enfrentaram chuvas fortes e inundações, trovoadas e tempestades de areia.
Intensificou-se a disputa por uma barragem no Nilo entre o Egito, Sudão e Etiópia.
Apesar de ocorrerem eleições parlamentares em novembro, o autoritarismo continuou a crescer com prisões e execuções de ativistas, jornalistas e militantes. Até médicos que criticaram a resposta do governo à COVID foram encarcerados. Em novembro, um homem chamado Mohamed Hosni ateou fogo no próprio corpo em um protesto contra a corrupção. Ato que nos lembrou o de Bouazizi em 2010, que inspirou os protestos que deram início à primavera árabe.
Outro ponto marcante de 2020 é a descoberta arqueológica de 59 sarcófagos de sacerdotes e escrivães da 26 dinastia do Antigo Egito.
Emirados Árabes Unidos (EAU)
A Expo 2020 acontece em Dubai com 192 países participantes. Ela teve início em outubro de 2020 e encerrará em março de 2021. É a primeira Expo Mundial no Oriente Médio.
Iêmen
O país continua devastado pela guerra. O Conselho de Transição do Sul, apoiado pelos EAU, declarou autonomia. O CCG condenou a formação do Conselho e a Liga Árabe demonstrou preocupação.
A ONU busca fundos adicionais para ajudar o Iêmen na luta contra a COVID.
Israel
Apesar do ano começar com acusações de corrupção contra o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, ele continuou no cargo mesmo após as eleições legislativas de março, formando uma governo de coalizão entre seu partido, Likud, e o partido Azul e Branco.
Houve manifestações contra a gestão da pandemia, a deterioração econômica.
Os assentamentos continuaram a crescer.
Em janeiro, com a presença de Netanyahu na Casa Branca, Trump anunciou um plano de paz para Israel e Palestina. O nome oficial do plano é “Paz para a prosperidade: uma visão para melhorar as vidas dos povos palestino e israelense”, mas foi apelidado por seus criadores de “Acordo do século”. O plano foi dividido em uma parte política e outra econômica. Ele revoltou os palestinos e foi rejeitado pela Autoridade Palestina e pelo Conselho de Yesha, organização que reúne conselhos municipais de assentamentos israelenses. O plano previa uma solução de dois Estados, mas Jerusalém seria a capital indivisível de Israel, além de estender o tamanho do Estado de Israel, que passaria a contar com partes da Cisjordânia.
Como todos os anos, eventos relembrando o Holocausto ocorreram em Israel.
O país assinou vários acordos internacionais. No primeiro semestre, assinou um acordo com a Grécia para a construção do EastMed, que será o mais longo gasoduto subaquático. Em Agosto, foi anunciado um tratado de paz entre Israel e os EAU com o apadrinhamento dos EUA. Em setembro, Israel estabeleceu relações diplomáticas com os EAU e o Bahrein.
Em outubro, Israel e Líbano, que estão em situação de cessar-fogo desde 2006, iniciaram negociações facilitadas pela ONU e os EUA sobre a disputa de fronteiras marítimas. Nesse mesmo mês, Israel e Sudão assinaram um documento normalizando suas relações.
Em dezembro, Marrocos e Butão estabeleceram relações diplomáticas com Israel.
Dia 23 de dezembro, o Knesset foi dissolvido e foi anunciada a 4ª eleição para o parlamento em 2 anos.
Irã
O ano de 2020 iniciou no Irã com o impacto da morte do general Qassem Soleimani, a qual levou a uma escalada das tradicionais ameaças proferidas pelo país aos EUA. A tensão gerada pela morte, acarretou a breve prisão do embaixador britânico no Irã em 11 de janeiro.
Ainda em janeiro, o governo admitiu que abateu um avião ucraniano com 176 pessoas a bordo por erro humano causando protestos antigoverno por todo o país.
Iraque
O ano de 2020 começou com a morte do major-general iraniano da Guarda Revolucionária Islâmica e comandante da Força Quds, Qassem Soleimani, causada por um ataque por drone dos EUA. O ataque ocorreu em solo iraquiano. O Irã revidou bombardeando uma base aérea americana, denominada Ayin Al-Asad, localizada no Iraque.
A morte de dois repórteres em Basra desencadeou protestos por todo o país.
Em setembro, o Banco Mundial anunciou que o índice de pobreza dobraria no Iraque até o final do ano, chegando a 40%.
Jordânia
2020 foi um ano tranquilo para a Jordânia. Os eventos que marcaram o país nesse ano foram a pandemia (assim como todo o mundo) e a tempestade Dragão.
Kuwait
O Kuwait declarou-se contrário ao estabelecimento de relações diplomáticas de países árabes com Israel.
O ano foi marcado pelos problemas de saúde do Emir, Sabah al-Ahmad al-Jaber al-Sabah, que morreu dia 29 de setembro e foi substituído por seu meio-irmão Nawaf Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah.
Líbano
Em 2019, protestos contra a má gestão governamental e a estagnação econômica começaram no Líbano. As manifestações continuaram nos primeiros meses de 2020 e só arrefeceram após os primeiros casos de COVID no país. Esses protestos causaram a renúncia do primeiro-ministro, Saad Hariri, e a formação de um novo governo sob um novo primeiro-ministro, Hassan Diab, que ficou no cargo de 21 de janeiro de 2020 a 10 de agosto de 2020.
Diab renunciou após as simultâneas explosões no porto de Beirute, as quais causaram grande destruição, fazendo com que os libaneses voltassem às ruas para demonstrar contra o governo. As explosões trouxeram grande atenção internacional ao Líbano, que recebeu a visita de Macron e promessas de ajuda internacional. No final de 2020, já com Saad Hariri de volta ao posto de primeiro-ministro, a União Europeia, o Banco Mundial e a ONU lançam um programa de Reforma, Recuperação e Reconstrução para o Líbano.
Há outros dois acontecimentos importantes relacionados ao Líbano em 2020. Um deles é a conclusão do Tribunal Especial para o Líbano, responsável por julgar os réus do assassinato do então primeiro-ministro Rafik Hariri. A sentença inocentou o governo sírio, a liderança do Hezbollah e três membros do Hezbollah, acusados de serem cúmplices na explosão que matou Hariri, mas condenou Salim Jamil Ayyash, também membro do Hezbollah. O outro foi o fortalecimento da posição pró-neutralidade no país com o pedido do patriarca maronita de voto favorável da ONU ao status de neutralidade do Líbano.
Omã
O ano começou com a morte do Sultão Qaboos, 10 de janeiro, aos 79 anos. O monarca lutava contra o câncer há anos. Ele era conhecido como o modernizador e muito amado pelo povo graças às reformas que promoveu aumentando exponencialmente a qualidade de vida no país. Ele foi substituído pelo seu primo Haitham bin Tariq Al Said.
Palestina
Em 2020, presos palestinos em Israel protestaram com greve de fome, a Palestina recebeu ajuda do Banco Mundial para lutar contra a COVID e criticou os países árabes que assinaram acordos de paz com Israel.
Em novembro, a UNRWA, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente, anunciou ter quebrado.
Síria
Apesar da pandemia, as batalhas continuaram e analistas começaram a alertar que, se Bashar Al-Assad for deposto, a situação pode se deteriorar já que muito provavelmente se seguirá o caos e a luta por poder entre diferentes grupos.
Diversos países continuam envolvidos na guerra da Síria. Entre eles, EUA, Turquia, Rússia e Irã. Cidadãos sírios reclamam da forma como são tratados por certas tropas estrangeiras.
Em outubro, Omã foi o primeiro país do Golfo a reenviar um embaixador à Síria.
No dia 31 de dezembro, ocorreu o maior ataque do EI no país desde a queda do califado em março de 2019.
Turquia
O ano de 2020 na Turquia foi marcado por desastres naturais, incluindo terremotos, avalanches, inundações, queimadas, deslizamentos e tsunami; pelo envolvimento na guerra da síria marcada, principalmente, pela Operação Escudo da Primavera; pela questão da entrada de refugiados sírios; pelo primeiro carro voador do país e por atitudes autoritárias e populistas de Erdoğan.
O atual presidente turco reverteu a condição da Hagia Sophia de museu para mesquita, o Papa Francisco declarou-se aflito por causa dessa conversão. A Turquia também declarou apoio ao Arzebaijão no conflito de Nagorno-Karabakh, uma decisão não só identitária, mas principalmente geopolítica, que envolve a exploração de gás natural no Mar Negro.
Algumas ações contrárias ao presidente turco foram a decisão da Suprema Corte de suspender o bloqueio da Wikipedia no país e as sanções dos EUA contra a Presidência das Indústrias de Defesa, agência ligada ao Ministério de Defesa Nacional da Turquia.
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